Nesta tarde de sábado (12), tive um dos dias mais legais
como colorado. Não teve título, não teve nem jogo, mas sim uma conversa que me
remeteu ao passado tão lindo que o nosso Internacional possui.
Dona Noêmia, a Vó Noêmia, colorada de todos os costados, 82
anos, nascida em Santana do Livramento e tem um endereço de dar inveja em
qualquer um dos 8 milhões de colorados espalhados pelo mundo. Todo dia pela
manhã, sua primeira paisagem é o Gigante da Beira-rio na janela do seu quarto.
Acompanha o Inter durante todo o seu dia. Seu rádio é ligado desde a hora que acorda
até a hora adormecer. Sabe tudo! Jogos, jogadores, histórias coloradas e muito
mais. Acompanhou o Inter nos Eucaliptos e ajudou a erguer o Gigante com
doações. Criou filhos e netos tendo o Beira-rio como pátio, e sempre manteve o
amor colorado soberano na sua família. Foi uma tarde vermelha, uma tarde mais
que especial.
Segue abaixo, uma amostra, da nossa “charla”.
Catimba: Quem é a Vó
Noêmia?
Vó: "Sou Noêmia Martins Fontoura, 82 anos, já nasci
colorada, morava no interior no tempo que só tinha o rádio. Ali eu já
acompanhava futebol. Aliás, nasci em fazenda e meus pais eram colorados."
Catimba: Como começou
seu coloradismo?
Vó: "Eu tinha um tio que não tinha filhos. Depois que
me mudei para a cidade de Livramento, ele me levava nos banquetes do 14 de
Julho (Clube de Livramento), então desde pequeninha, eu fui levada pra esse
lado de gostar de futebol. Ele me levava para o campo, assim fui aprendendo a
gostar de futebol. Depois casei, tive filhos e vim morar em Porto Alegre. Porém
antes de mudar, eu ja vinha a Porto Alegre e ia nos Eucaliptos. Aí quando me
mudei de vez, em 1967, comecei a cuidar do Inter (risos). Eu tinha 5 amigos que
me levavam ao campo, pois diziam que eu era pé quente. Assim foi crescendo o
sentimento de ver o Inter."
Catimba: Qual foi seu
primeiro ídolo e o mais recente?
Vó: "Bom, primeiro Figueroa e Falcão. Como eu estava
longe na época dos ídolos mais antigos, eu não morava em Porto Alegre ainda, eu
não tinha muito contato. Mas na época deles, eu já andava pelo Beira-rio. Então
tinha aquela aproximação. Era mais fácil chegar mais perto. Não posso esquecer
do Marinho Perez, um querido. Depois deles, ídolo mesmo, Fernandão e
D'Alessandro. Fernandão não dá para explicar, era diferente. O amor que ele
tinha, o entusiasmo que ele tinha, a coragem que ele dava pro time. Um rapaz
que veio de Goiás, e o amor que ele nos deu não tem explicação. Já o D'Ale não
existe. Ele é diferente. Acho que nem fabricando um sai igual, nem com xerox
(risos). O D'Alessandro é um pessoa muito especial pra mim e para o Inter. Ele
é torcedor como nós. Acho que isso é do argentino, pois eu tava no treino, e o
Ariel foi tirar foto com a torcida, sem se importar que não é ídolo, mas ele
tava la. Eu queria ter tirado uma foto com ele. Não tem ninguém como o D'Ale,
parece que quando ele te ve, parece que ele ta vendo um amigo. Não posso
esquecer do Abel! Ah, eu amo o Abel! (risos)"
Catimba: Qual foi seu
jogo inesquecível?
Vó: "Pra mim foi o do primeiro campeonato brasileiro.
Aquele jogo contra o Cruzeiro foi demais, pois eles também tinham um time muito
bom, tinha o Nelinho que batia faltas. Mas aquele gol iluminado foi muito
emocionante, pois o Inter não tinha todo esse status ainda fora do RS, então
aquele título abriu os caminhos para o Inter ser gigante. Foi
maravilhoso."
Catimba: Vó, como é
morar aqui? Como é abrir todo dia a sua janela e ver o Beira-rio?
Vó: "Ah, é maravilhoso. Não tem coisa mais linda. Pra
mim, nesses meus 82 anos, vendo vitórias e derrotas, é um presente. Pois quando
o Inter ta mal, me torno mais colorada ainda. Pois ai eu acho que o clube
precisa mais da gente. E morar aqui é lindo. Eu já me mudei 4 vezes pra frente
do Beira-rio. Agora não saio mais, apenas morta (risos).
Catimba: Como é a sua
rotina? Como a Vó acompanha o futebol?
Vó: "Eu vejo 24 horas futebol. Eu acordo e já ligo meu
rádio. Tenho rádio em todos os cômodos do apartamento. Ligo a TV na Fox, no
Sportv. To sempre vendo futebol. Eu sempre dormi pouco, então escuto rádio e
vejo TV das 07:00 até as 03:00 da manhã. Durmo escutando o Rafael Colling,
gremistão, só pelo jeito de falar, e acordo ouvindo o Macedo, outro gremista
(risos).
Catimba: A vó vai
ainda ao campo?
Vó: "Agora não muito, vou pouco. Estou com problema de
visão. Vou quando meu neto me leva, prefiro que ele me acompanhe. Mas antes eu
ia sempre! Hoje o namoradinho da minha neta, que é colorado daqueles
praticantes (risos), também me acompanha. Não senta um minuto, grita e briga.
Ele é corneteiro (risos), eu mando ele sentar e ficar quieto (risos), mas ele é
um amor. Mas eu sinto o ambiente aqui da minha janela e o rádio sempre ligado,
rádio é meu companheiro. Contra a Ponte to lá!"
Gonçalo: "As vezes acho que ela ta falando algumas
bobagens, falando notícias falsas, mas aí só depois eu fico sabendo que ela
escutou primeiro no rádio (risos)."
Catimba:
"Gonçalo, como surgiu a idéia da página? A vó acompanha a
repercussão?"
Gonçalo: "Bom, eu postava sempre alguma frases de
efeito da Vó no meu facebook, e meus amigos curtiam muito, pois ela tem
opiniões bem próprias e com muito conhecimento em futebol. Aí fiz a página para
os colorados, que serve também para registrar toda essa vida que a vó teve em
torno do Inter. Sem falar, que os parentes do interior recebem notícias da vó
através das postagens. Eu já fiz algumas coisas com a vó pra faculdade, então
quis arquivar ainda mais esse conteúdo. Sem falar que ela me fez
colorado, pois sou de família de gremistas. Então quis mostrar todo esse
coloradismo dela, pois ela que me fez aguentar aqueles anos 90, dizendo que a
nossa hora chegaria de novo."
Vó: "Ele não me mostra o que acontece na minha página!
Minha filha vem aqui e tem que me mostrar o que estão falando. Tem até uns
gremistas que gostam, tem uns que são gente boa. Ah, o Gonçalo não quis
jogador, esse não quis! Eu levava ele no Beira-rio pra jogar."
Gonçalo: "Nem é pra tanto, é coisa de vó mesmo
(risos)."
Catimba: E quando o
Gabiru faz o gol, Vó?
Vó: "Foi uma loucura. Foi demais. Iarley pra mim foi
gigante. O gol do Gabiru mostrou bem a cara do Inter. O gol de um jogador
humilde, que a imprensa e a maioria da torcida não gostava. Pra mim foi demais.
O Iarley ter voltado pro clube foi demais, ele é um incentivo pra juventude. Um
dos acertos dessa gestão é ter trazido ele pra perto de novo. Tinham que fazer
com o Gabiru também, deixar ele ai, pelo menos pra porteiro! Pagar um salário e
deixar ele pra torcida colorada ver todo dia de jogo e agradecer! (risos)"
Catimba: Quando em
jogo do Inter, a Vó tem alguma superstição?
Vó: " Claro, mas não posso falar! Vai que fazem contra
nós. Mas tenho sim! Pode ter certeza que tenho."
Gonçalo: "Conta em off, vó."
Vó: "Vou contar, aí tu faz também (risos)."
Catimba: O que a
Senhora espera pra esse final de ano e pra 2017?
Vó: "Vamos fazer 10 pontos! Vamos sair dessa! Se
depender dos meus santos, eles não ganham nada e nós saímos dessa! Ah, e espero
que o D'Ale volte, nem que seja pra bonito!"
Catimba: Deixa uma
mensagem pro torcedor, vó!
Vó: "Peço que a torcida não abandone. Não deixe de lado
nosso Inter. Eu nunca vou abandonar o Inter, sempre vou apoiar. O Inter é
gigante de demais."
Agradeço ao Gonçalo, que tornou possível esse bate-papo, e principalmente
a Vó, por me receber em sua residência.

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